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O poder medicinal das plantas do Cerrado: sabedoria popular e ciência de mãos dadas



O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e abriga uma das maiores biodiversidades de plantas do mundo. São mais de 12 mil espécies catalogadas, muitas delas com reconhecido potencial medicinal. Usadas há gerações pela população local, essas plantas continuam presentes em receitas caseiras, chás e remédios naturais que fazem parte do dia a dia de muitas pessoas.


Do conhecimento popular ao tratamento de doenças

Antes da chegada da medicina industrializada, a cura vinha da observação da natureza. Da raiz ao fruto, diversos exemplos demonstram como as plantas do Cerrado são utilizadas para tratar enfermidades.


Veja alguns exemplos populares:

  • Aroeira (Astronium urundeuva): suas sementes são usadas para aliviar dor de garganta.

  • Barbatimão (Stryphnodendron adstringens): a casca é famosa por seu poder cicatrizante.

  • Embaúba (Cecropia pachystachya): indicada para tratar bronquites e problemas respiratórios.

  • Assa-peixe (Vernonanthura polyanthes): muito usada em forma de chá para combater tosses persistentes.


Esses são apenas alguns entre os muitos exemplos do uso medicinal das plantas nativas do Cerrado.


Barbatimão (Stryphnodendron)
Barbatimão (Stryphnodendron)

De onde vem esse conhecimento?


Durante boa parte da nossa história, não havia farmácias nem medicamentos industrializados acessíveis. Foi observando os efeitos das plantas — tanto os benéficos quanto os perigosos — que comunidades desenvolveram um profundo conhecimento empírico sobre quais espécies poderiam curar ou causar danos. Essa sabedoria foi transmitida de geração em geração e permanece viva em muitas regiões do Brasil.

Até hoje, é comum encontrar pessoas que recorrem a raizeiros ou bancas de ervas medicinais nas feiras para tratar sintomas do cotidiano.


E a ciência, o que diz?

A utilização de plantas medicinais precisa ser feita com responsabilidade. Nem tudo o que é natural é inofensivo. Para isso, a ciência atua como aliada.


Existe uma área da ciência chamada etnobotânica, responsável por investigar quais plantas são utilizadas pelas comunidades, quais partes são usadas, como são preparadas e para quais finalidades. Esse levantamento inicial serve como base para pesquisas mais aprofundadas.

Após essa fase, as plantas passam por testes laboratoriais que analisam suas propriedades químicas e farmacológicas. Se confirmados seus benefícios e segurança, podem se tornar fitoterápicos, drogas vegetais ou novos produtos da medicina moderna. Caso apresentem substâncias tóxicas, são descartadas para uso medicinal.


É assim que aquela antiga receita da avó, do chá para gripe ou da folha amarga para dor de estômago, pode se transformar na base de um novo medicamento.


Conhecimento em risco

Apesar do grande potencial, tanto o conhecimento tradicional quanto a biodiversidade do Cerrado estão ameaçados. Um estudo realizado no município de Corumbá de Goiás (Milhomem & Lima, 2017) apontou que restava apenas um raizeiro na região. Em outro trabalho realizado na Cidade de Goiás (Bezerra et al., 2020), observou-se que muitas plantas utilizadas pela população são, na verdade, exóticas, ou seja, não pertencem ao bioma do Cerrado. É o caso da erva-cidreira (Melissa officinalis) e do hortelã (Mentha piperita), ambas trazidas de outros continentes, mas amplamente adotadas na cultura popular brasileira.


A perda desse saber é preocupante, pois ele carrega não só a memória de um povo, mas também um potencial gigantesco para a descoberta de novos medicamentos e bioprodutos.


Iniciativas de resgate e valorização

Felizmente, universidades e centros de pesquisa vêm se dedicando a resgatar esse conhecimento tradicional. Um exemplo é o Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Cerrado, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), que mantém grupos de pesquisa voltados para o desenvolvimento de bioprodutos alimentícios, cosméticos e farmacêuticos a partir de espécies nativas do Cerrado.


Por que seguimos desmatando o Cerrado?

Mesmo com tamanha riqueza, o Cerrado continua sendo destruído em ritmo acelerado. Se queremos garantir um futuro sustentável, é preciso reconhecer o valor desse bioma não apenas como paisagem natural, mas como fonte viva de saúde, ciência e cultura.

Proteger o Cerrado é proteger nosso próprio bem-estar.


Fontes

Bezerra, D. G. et al. (2020). Percepção sobre o uso de plantas medicinais e impactos no Cerrado na região da Cidade de Goiás (GO).


Revista Brasileira De Educação Ambiental (RevBEA), 15(5), 391–408. LinkMilhomem, D. M. de S., Lima, J. M. (2017).


Etnobotânica de plantas medicinais do cerrado com uso terapêutico no município de Corumbá de Goiás. TCC, Faculdade Metropolitana de Anápolis.

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